quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Inversão de valores nas psicopatologias

Como profissional da área de saúde mental convivo diariamente com sentimentos dúbios e as vezes paradoxais no que diz respeito a psicodiagnóstico.

Corringindo, meu sentimento é paradoxla não ao psicodiagnóstico, mas como ele é apresentado, defendido e visto pela comunidade da saúde mental. Digo isso porque diagnóstico bem feito é uma ótima ferramenta para a (re)inserção social dos pacientes.
O diagnóstico orienta a medicação mais acertada, a terapia mais recomendada e uma direção não só para aquele que sofre o distúrbio, mas também para seus familiares e amigos.

O que mais incomoda, não.. irrita mesmo, e chego achar criminoso, é a maneira como é dado e colocado o diagnóstico. DIAGNÓSTICO NÃO É SENTENÇA DE MORTE. É histórico, ou seja, algumas características podem ser atenuadas e até mesmo sumirem quando cuidadas medicamentosamente ou na terapia, como por exemplo, sintomas depressivos agudos, ouvir vozes, etc.

Alguns transtornos irão desaparecer, como Autismo, Síndrome de Asperger e outros transtornos do desenvolvimento, outros precisamos ficar atentos para não haver recaída, como depressão crônica, alcoolismo, dentre outros. Vale ressaltar que tudo isso é baseado no que conhecemos até agora sobre as patologias do DSM-IV e CID-10.

Todos nós podemos ouvir vozes, sabe quando estamos super estressados e ouvimos alguém nos chamar? ou ouvimos uma barulho estranho e nada na nossa casa produziu esse som? Quando dizer que alguma coisa é sintoma ?

É sintoma, é preocupante quando as vozes, continuando o exemplo acima, não faz parte da sua religião, cultura ou sociedade e/ou quando compromete suas atividades diárias, ou seja, quando você pára de comer, tomar banho, etc ou mesmo se começa a fazer algumas coisas não muito adequadas, como bater em alguém, agressões em geral, etc.

Como muitas ferramentas, o diagnóstico em sí não gera problemas, mas sim aquelas pessoas que utilizam-se dos diagnósticos para venda de livros, medicamentos e terapias não-convencionais.

Sofrer de depressão não tira capacidade de trabalho, com tratamento adequado, pensado e respeitando as peculiaridades pessoais, o paciente terá uma vida rica e cheia de conquistas. Inclusive, momentos de depressão são fundamentais (mas isso é assunto de um outro post) para nossa vida, para criatividade e superação de crises (sim, sou super contra essa onda de tudo cor de rosa e depressão é fraqueza de espírito).

Ninguém fica doente porque quer, mas sim porque pode, porque é assim que seu corpo (corpo é o conjunto de psiquismo, soma) consegue lidar com a vida.

Não use diagnósticos para excluir e não deixe que excluam você pelo seu diagnóstico.

O que seria do balé sem Nijinsky - esquizofrênico? Da física sem Einstein - suspeita de Síndrome de Asperger? Da psicanálise sem Klein - depressão clínica (sim, ela foi importante)?

Para finalizar, fica aqui o vídeo que inspirou esse primeiro post (um pouco longo...) sobre diagnósticos!





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