sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Síndrome de Asperger - o retorno, vulgo parte 2

Síndrome de Asperger – O retorno

O primeiro post, dia 16: http://umprojetoempsicologia.blogspot.com/2011/02/sindrome-de-asperger-o-inicio.html , apresentou um tom mais acadêmico, por assim dizer. Uma pincelada nas características comportamentais mais perceptíveis em “aspies”.

O que vale lembrar, e isso muita gente esquece, é que “aspies” querem trabalhar, ter amigos, ser independentes, constituir famílias, enfim, querem ser felizes, à sua maneira.

É exatamente nesse ponto: felicidade à maneira “Aspie” que se encontram boa parte dos conflitos e dificuldades enfrentadas com as famílias, claro, há exceções, contudo muitos pais têm grande dificuldade em lidar com o “ensimesmamento” dos filhos “aspies”.

Portadores de SA preferem trabalhar e estudar a noite, para muitos pais isso é inadmissível, afinal, para esses pais a “noite é para dormir”. Outra dificuldade é conseguir que o filho coma aquilo que os pais oferecem, sem reclamação ou mesmo sem poder escolher qualquer outra possibilidade de cardápio. Outro aspecto que gera um pouco de confusão é a falta de amigos e namoradas (os). “Aspies” querem alguém para conversar e se relacionarem, de uma vez por todas, vamos tirar a idéia de que asperger não tem sentimento, por favor!

Se nós “neurotípicos” não escolhemos qualquer pessoa para dividir nossa vida, alguém com dificuldades empáticas e que não faz questão de uma “socialização gratuita” será ainda mais exigente.

Para contornar essas dificuldades, assim como para contornar dificuldades na criação de “neurotípicos”, além de paciência (porque ser pai é ser paciente, educar é frustrante, tanto para a criança como para o educador) é reconhecer os limites da criança, do jovem asperger.

Respeitar os interesses, perguntado o que a criança gosta de fazer e buscar atividades com esse tema, os Sescs em São Paulo oferecem várias atividades, não voltadas para portadores de SA, mas com temas variados. Procurar exposições em São Paulo, filmes, peças de teatro que possa agradar.

Escolher uma escola que realmente seja inclusiva, que respeite a maneira de ser do pequeno asperger e que não o obrigue a fazer todas as atividades em grupo, adaptando assim o currículo quando necessário. Isso também é válido para os jovens, escolher uma graduação ou curso técnico afinado aos interesses.

Enfim, Asperger não Asperger, o que importa é o Amor, respeito. Claro, criar um asperger apresenta desafios (logo escreverei sobre isso também) mais intensos, contudo, não intransponíveis.

Aproveite o dia de hoje, 18 de fevereiro, para poder refletir por quais igualdades devemos lutar e exigir e quais as diferenças que devemos, sempre, cultivar!

“Neurotípico” ou não, todos merecem cuidados, respeito e principalmente amor, amor com qualidade, aquele amor que escuta o outro, que tenta um meio termo, que não é pesado, mas sim compreensivo, educativo e quando necessário agente frustrador.

Vida de “aspies” não é lógica e racional como muitas pessoas tentam nos fazer acreditar!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Inversão de valores nas psicopatologias

Como profissional da área de saúde mental convivo diariamente com sentimentos dúbios e as vezes paradoxais no que diz respeito a psicodiagnóstico.

Corringindo, meu sentimento é paradoxla não ao psicodiagnóstico, mas como ele é apresentado, defendido e visto pela comunidade da saúde mental. Digo isso porque diagnóstico bem feito é uma ótima ferramenta para a (re)inserção social dos pacientes.
O diagnóstico orienta a medicação mais acertada, a terapia mais recomendada e uma direção não só para aquele que sofre o distúrbio, mas também para seus familiares e amigos.

O que mais incomoda, não.. irrita mesmo, e chego achar criminoso, é a maneira como é dado e colocado o diagnóstico. DIAGNÓSTICO NÃO É SENTENÇA DE MORTE. É histórico, ou seja, algumas características podem ser atenuadas e até mesmo sumirem quando cuidadas medicamentosamente ou na terapia, como por exemplo, sintomas depressivos agudos, ouvir vozes, etc.

Alguns transtornos irão desaparecer, como Autismo, Síndrome de Asperger e outros transtornos do desenvolvimento, outros precisamos ficar atentos para não haver recaída, como depressão crônica, alcoolismo, dentre outros. Vale ressaltar que tudo isso é baseado no que conhecemos até agora sobre as patologias do DSM-IV e CID-10.

Todos nós podemos ouvir vozes, sabe quando estamos super estressados e ouvimos alguém nos chamar? ou ouvimos uma barulho estranho e nada na nossa casa produziu esse som? Quando dizer que alguma coisa é sintoma ?

É sintoma, é preocupante quando as vozes, continuando o exemplo acima, não faz parte da sua religião, cultura ou sociedade e/ou quando compromete suas atividades diárias, ou seja, quando você pára de comer, tomar banho, etc ou mesmo se começa a fazer algumas coisas não muito adequadas, como bater em alguém, agressões em geral, etc.

Como muitas ferramentas, o diagnóstico em sí não gera problemas, mas sim aquelas pessoas que utilizam-se dos diagnósticos para venda de livros, medicamentos e terapias não-convencionais.

Sofrer de depressão não tira capacidade de trabalho, com tratamento adequado, pensado e respeitando as peculiaridades pessoais, o paciente terá uma vida rica e cheia de conquistas. Inclusive, momentos de depressão são fundamentais (mas isso é assunto de um outro post) para nossa vida, para criatividade e superação de crises (sim, sou super contra essa onda de tudo cor de rosa e depressão é fraqueza de espírito).

Ninguém fica doente porque quer, mas sim porque pode, porque é assim que seu corpo (corpo é o conjunto de psiquismo, soma) consegue lidar com a vida.

Não use diagnósticos para excluir e não deixe que excluam você pelo seu diagnóstico.

O que seria do balé sem Nijinsky - esquizofrênico? Da física sem Einstein - suspeita de Síndrome de Asperger? Da psicanálise sem Klein - depressão clínica (sim, ela foi importante)?

Para finalizar, fica aqui o vídeo que inspirou esse primeiro post (um pouco longo...) sobre diagnósticos!





Síndrome de Asperger, o início

Na próxima sexta feira, 18 de fevereiro, é comemorado o dia da Síndrome de Asperger e na contagem regressiva, colocarei aqui posts sobre a Síndrome. Aqui está a primeira parte!
Espero que gostem

Até a próxima
Renata Luder

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Síndrome de Asperger – Parte 1

Após o sucesso do personagem Sheldon do seriado norte americano “The Big Bang Theory”, a Síndrome de Asperger (SA) vem ganhando cada vez mais espaço na mídia. Claro, Sheldon é um estereótipo e por isso seu comportamento é exagerado, contudo, é bem próximo ao mundo “Aspie”. A SA faz parte de um grupo de transtornos conhecidos como, Transtornos Invasivos do desenvolvimento, TID.

“(...) os transtornos invasivos do desenvolvimento (TIDs), às vezes denominados transtornos do espectro do autismo, referem-se a uma família de distúrbios da socialização com início precoce e curso crônico, que possuem um impacto variável em áreas múltiplas e nucleares do desenvolvimento, desde o estabelecimento da subjetividade e das relações pessoais, passando pela linguagem e comunicação, até o aprendizado e as capacidades adaptativas. (...)” (Ami Klin, Marcos T Mercadante - http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44462006000500001&script=sci_arttext&tlng=pt )

A Síndrome de Asperger diferencia-se do autismo clássico por não comportar nenhum atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivo ou da linguagem do indivíduo. O diagnóstico geralmente acontece tardiamente, justamente por isso.

As características da SA são conhecidas, tanto dos profissionais que trabalham na área de saúde mental bem como de leigos, por assim dizer. As características comuns aos portadores que auxiliam no diagnóstico diferencial são:

1. Dificuldade em compreender as mensagens transmitidas por meio da linguagem corporal - pessoas com SA geralmente não olham nos olhos, e quando olham, não conseguem "ler".

2. Interpretar as palavras sempre em sentido denotativo - indivíduos com SA têm dificuldade em identificar o uso de coloquialismos, ironia, gírias, sarcasmo e metáforas.

3. Ser considerado grosso, rude e ofensivo - propensos a comportamento egocêntrico, Aspergers não captam indiretas e sinais de alertas de que seu comportamento é inadequado à situação social.

4. Aperceber-se de erros sociais - à medida que os Aspergers amadurecem e se tornam cientes de sua "cegueira emocional", começam a temer cometer novos erros no comportamento social, e a autocrítica em relação a isso pode crescer a ponto de se tornar fobia.

5. Paranóia - por causa da "cegueira emocional", pessoas com SA têm problemas para distinguir a diferença entre atitudes deliberadas ou casuais dos outros, o que por sua vez pode gerar uma paranóia.

6. Lidar com conflitos - ser incapaz de entender outros pontos de vista pode levar a inflexibilidade e a uma incapacidade de negociar soluções de conflitos. Uma vez que o conflito se resolva, o remorso pode não ser evidente.

7. Consciência de magoar os outros - uma falta de empatia em geral leva a comportamentos ofensivos ou insensíveis não-intencionais.

8. Consolar os outros - como carecem de intuição sobre os sentimentos alheios, pessoas com AS têm pouca compreensão sobre como consolar alguém ou fazê-los se sentirem melhor.

9. Reconhecer sinais de enfado - a incapacidade de entender os interesses alheios pode levar Aspergers a serem incompreensíveis ou desatentos. Na mão inversa, pessoas com SA geralmente não percebem quando o interlocutor está entediado ou desinteressado.

10. Introspecção e autoconsciência - indivíduos com SA têm dificuldade de entender seus próprios sentimentos ou o seu impacto nos sentimentos alheios.

11. Vestimenta e higiene pessoal - pessoas com SA tendem a ser menos afetadas pela pressão dos semelhantes do que outras. Como resultado, geralmente fazem tudo da maneira que acham mais confortável, sem se importar com a opinião alheia. Isto é válido principalmente em relação à forma de se vestir e aos cuidados com a própria aparência.

12. Amor e rancor recíproco - como Aspergers reagem mais pragmaticamente do que emocionalmente, suas expressões de afeto e rancor são em geral curtas e fracas.

13. Compreensão de embaraço e passo em falso - apesar do fato de pessoas com SA terem compreensão intelectual de constrangimento e gafes, são incapazes de aplicar estes conceitos no nível emocional.

14. Lidar com críticas - pessoas com SA sentem-se forçosamente compelidas a corrigir erros, mesmo quando são cometidos por pessoas em posição de autoridade, como um professor ou um chefe. Por isto, podem parecer imprudentemente ofensivos.

15. Velocidade e qualidade do processamento das relações sociais - como respondem às interações sociais com a razão e não intuição, portadores de SA tendem a processar informações de relacionamentos muito mais lentamente do que o normal, levando a pausas ou demoras desproporcionais e incômodas.

16. Exaustão - quando um indivíduo com SA começa a entender o processo de abstração, precisa treinar um esforço deliberado e repetitivo para processar informações de outra maneira. Isto muito freqüentemente leva a exaustão mental.

Geralmente portadores de SA enfrentam muitas dificuldades quando passam da adolescência para a idade adulta, uma vez que o jogo de regras sociais se torna mais sutil e necessário. Essa dificuldade pode gerar muita ansiedade, depressão e causar alguns problemas entre o “aspie” e seus familiares.

Vale ressaltar que o QI de aspergers está na faixa de normalidade, ou seja, não há prejuízo cognitivo, assim, podem cursar universidades, fazer pós graduação e serem adultos autônomos e independentes.